quarta-feira, 28 de maio de 2008

Apresentação de Cássio Junqueira

A Fernanda, igual falei, me enviou uma apresentação de Cássio Junqueira feita por ele mesmo pra ela: vou publicá-la em seguida.
Vai seguir uma seleção de poesias do Cássio feita por Patrizia Ercole.
Beleza?
***
Fer, segue uma apresentação minha por mim mesmo… as fotos [que por enquanto não vou publicar n.d.r.] … o arquivo com os poemas do meu novo livro, que já levarei na mala para a Itália... Acho que é mais o meu jeito que um currículo... Beijo!
O meu interesse por poesia surgiu ainda criança, acho que aos sete anos de idade, quando achei um livro numa estante de meu pai em que havia poemas de Castro Alves e de outros poetas que não lembro... mas me lembro de um poema que eu adorava, lia e chorava: MÃE "Na nossa infância de sonhos/com carinho e amor/é fada que nos mostra a vida/sem os espinhos da dor/Na adolescência perdidos/trilhamos grandes desertos/é estrela de luz amiga/guiando os passos incertos/E no fim desiludidos/ sem esperança e ninguém/é saudade que nos lembra/fomos felizes também." Acho que era isso...
Depois veio Fernando Pessoa, que me despertou muito para a arte de viver, para as contradições todas que existem na Pessoa, a complexidade de que somos feitos. Fernando foi o primeiro poeta que vim a conhecer mais profundamente... Outros fui conhecendo mais superficialmente, como Vinicius, Quintana, Drummond, todos eles sempre me encantavam também...
Em setembro de 2003, bem no início da primavera, estava no trabalho e de repente fui tomado por algo que já me tomava por vezes desde criança, que nunca soube explicar e ainda não sei explicar bem, abri um documento em branco no computador e escrevi meu primeiro poema: VONTADE DE FICAR TRISTE, que diz algo assim: "às vezes me vem de repente uma vontade de ficar triste/tudo vai ficando sem importância/eu mesmo vou ficando sem importância (...) /é como se o tempo parasse para que eu pudesse respirar profundamente/e eu respiro profundamente/e minha tristeza se enche de esperança/e minha vida fica cheia de felicidade novamente." A partir daí, escrevi os poemas que deram origem ao meu primeiro livro: 'a beleza fundamental de todos os lugares'. Quando o livro estava para ser impresso, vi uma entrevista da Adélia Prado e surgiu uma ligação e uma admiração profundas, sua poesia passou a ser uma das principais referências pra mim.
Nessa época conheci uma cantora daqui de São Paulo, chamada Carmen Queiroz, leu meu primeiro livro e me convidou pra fazer apresentações intercalando música e poesia. A gente já fez desde então vários shows (algo entre sarau, show e teatro) em bares, parques, livrarias e teatros daqui da cidade e uma apresentação da Fnac do Barra Shopping do Rio de Janeiro. Por conta desse trabalho, fizemos participação em alguns programas de rádio e de televisão. Atualmente tenho sido convidado para participar de saraus aqui em São Paulo, em livrarias, no Sesc e em bibliotecas.
Logo depois do meu primeiro livro, escrevi 'é só amor - apenas eu', poemas que hoje acho mais ao gosto do público juvenil. Em seguida, vieram os poemas que deram origem ao livro 'o lugar em que estou', que recebeu uma apreciação muito bonita de João Barcellos, poeta e crítico literário que vive aqui em São Paulo. Nessa época, Clarice Lispector se torna uma das minhas principais referências. Depois, escrevi o livro 'Deus fala comigo', cujo poema que dá título ao livro recebeu menção honrosa em concurso na Itália. Por fim, 'Poeta no divã', em que proponho homenagens a Adélia Prado e Clarice Lispector. Esse livro foi lançado em bonito evento realizado este ano na Livraria da Vila - Jardins.
Agora, escrevi 'Só a pessoa sabe o que tem por dentro', que recebeu, novamente de João Barcellos, uma apreciação que me comoveu muito. O livro será publicado novamente pela Edicon, o lançamento no Brasil está marcado para o dia 23 de setembro, das 19h às 22h, em São Paulo, novamente na Livraria da Vila - Jardins, espaço que recebe importantes nomes da literatura e da música brasileira e internacional.
Segue texto que escrevi hoje para o orelha do livro:
"Às vezes quando leio coisas da Cecília, da Hilda, da Adélia ou da Clarice, penso 'Meu Deus, pra que escrever? Já está tudo aqui.' Mas há momentos em que nada do que foi escrito me serve, graças a Deus... nesses momentos é que surge a minha poesia.
Tenho pensado se minha literatura não é feminina... Se é que isso existe? Mas tenho pensado mesmo assim... Cada vez mais me interessam temas como a transcendência, a vida e a morte, o eterno e o efêmero, o sempre amor e a paixão, cada vez mais me interessam o silêncio (mesmo falar sobre ele) e as formas não rígidas... E isso sempre me parece muito feminino. Essa coisa da mulher que quando vai parir fica triste porque é chegada a sua hora, mas depois se alegra enormemente por ter dado à luz outra pessoa... Essas palavras são de Jesus, que falava nisso pra falar sobre outro fato e chamar a atenção para o feminino em todos nós. Jesus, que cada vez mais acredito seja Deus, que cada vez mais sei: Ele é, Deus é e pronto. Mas a gente continua falando sobre Ele... Lygia Fagundes Telles disse que ela e Hilda Hilst gostavam de conversar sobre a morte e sobre Deus... Eu compreendo, nós somos carentes e falar sobre Deus é uma forma de fazer contato, e isso é transcendência. É como diz o Quintana, que é feminino também: "a alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe." Isso tudo tem sido pra mim o melhor na arte, o alento da alma."
Acho que é isso. Acho que não importa dizer que sou formado em Economia pela Unicamp e tenho um cargo da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. Bom, de qualquer maneira, disse.
***

Não agüentando mais ...
Não agüentando mais
De tanta solidão
Subi na árvore
Mais alta que encontrei

Chegando lá
Tinha um passarinho

Nunca mais
Eu fui sozinho

O amor é como o mar...
O amor é como o mar...
Ora calmo, ora revolto...
Sempre cheio de mistérios...

A gente pode ficar na margem
Ou se entregar...

Amar é se entregar
À incerteza do mar

Ainda me resta a morte
Ainda me resta a morte.
Quando nada mais me resta,
A morte renova tudo,
Ela transforma tudo em nada... E nada em tudo.
E essa sensação de liberdade que a morte me traz
Me chega como um convite a viver sem limites...
Um convite quase irrecusável
Ainda bem que a gente morre várias vezes enquanto vive...
Até que seja a morte derradeira

1 comentário:

Grupo de Leitura disse...

Muito obrigado por ter indicado nosso blogue do Grupo de Leitura Lusófono da Biblioteca Berio de Genova (Itália), Edna!
A gente tem esse prazer de divulgar a poesia e a cultura brasileira e lusófona em geral!
Muito legal sua ocupação!
Aquele abraço!